O dia em que tudo (quase) parou

Foi alucinante.
Uma atrás da outra.
Gargalhadas e mais gargalhadas.
Luzes coloridas para todos os lados.

- Perdeu, que lerdo!
- Agora vira.
Só se ouvia gargalhadas.
- Coloca dose dupla.

Lá do alto do portão talvez poderia avistar Saturno.
O impacto com o chão não foi dos melhores.
Agora só se ouvia gritos.
- Desce daí, desce logo!

Ainda não tinha aprendido a engolir a saliva.
Banhei a sarjeta com meu vômito.
O frio parecia me congelar.
Meu anjo da guarda estava ao meu lado, todo o tempo.

E o silêncio tomou conta de tudo.
Só se ouvia passos.
Cabeça pensante e errante.
A caminhada foi longa.

Trancado sozinho no banheiro o suor começou a escorrer.
Parecia uma tempestade.
A caminhada mais uma vez foi longa.
Não vi mais nada, tudo ficou preto.

Lábio roxo.
Pele pálida.
Açúcar.
Desespero.

Parecia um túnel.
E não, não havia luz alguma lá no fim.
Gritos, gritos e gritos!
- Volta, não para de falar comigo, respira!

O véu era o símbolo da fé.
A esperança era tudo que não podia acabar.
O desespero tinha que morrer.
E tudo não podia parar.

Mas assim como toda criatura feroz
um dia encontra o seu domador.
Para todo problema existe uma solução,
e ali meu amigo, a solução era a vontade de voltar.