quinta-feira, 2 de julho de 2009

Jornada de um dia só

Cheguei, estava frio e não encontrei ninguém.
Gritei, bati nas portas.
Corri, desci montanhas.
Assustei, nenhuma luz acesa, só a da minha lanterna.
Meu sangue já estava congelado.
Quando o despertador me assustou, se eu tivesse levantado talvez encontraria a luz do sol.
Ou talvez se a lua estivesse lá fora à vista, iluminando.
Ou talvez nada, o talvez é uma ilusão, um ponto de vista fracassado.

Cheguei no lugar que tanto queria chegar.
Espero o dia clarear?
Espero alguém chegar?
E se ninguém vier?
E se a noite se perpetuar?

Vejo algo deserto, ou pode ser a neblina.
Não sei, meu sangue está congelado, estou perdendo os sentidos.
Sinto cheiro de animal morto.
Dizem que quase ninguém consegue chegar aqui, e quem chega não sai ileso.
Pode ser tolice se arriscar tanto assim, sem ter a certeza se vou me sair bem.
Mas dizem tantas coisas, que se eu fosse dar ouvidos eu não sairia da minha cama.
Pensei muito antes de tomar o rumo para este lugar sombrio.
Sempre soube que podia ser perigoso. Mas o perigo me faz bem.
A incerteza me alimenta, será que sou capaz de conseguir?
Bom, o pior eu já fiz, cheguei até aqui, vi coisas horríveis.
Carcaças de animais...
Um som de angústia...
Restos de sonhos.

Cada minuto era motivo para comemorar, eu estava vivo.
Descobri as armadilhas do caminho, meu passo era lento e calculado.
Não queria virar alimento de pessoas que cultivam sementes de ódio e rancor.
No caminho eu podia avistar brotos de inveja.
Enormes pinheiros de ilusão, eles chamavam tanta atenção que parei e fiquei pensando, quase fui tentado.
Muitas sombras rondavam por ali, elas não sabiam onde estavam ou o motivo de ter ido até ali.
Eu podia desistir, sou dono do meu caminho, mas voltar sem saber se seria capaz de ir até o fim? Não, obrigado.

Fiz amigos no caminho, sem eles tudo ficaria mais difícil. Eram imaginários, mas não deixavam de ser uma agradável companhia.
O frio continua, já estou me acostumando.
Sinto alguém me observar. Sinto que alguém se aproxima.
Eu poderia dormir, mas não é uma boa idéia, e se aqui o sono for eterno?
Ou até seria uma ótima idéia, se algo acontecesse e eu falhasse eu poderia dizer que foi uma fatalidade por causa do sono.

Agora começo imaginar se isso tudo for um sonho, e logo alguém me chamar para tomar banho e ir almoçar, depois ir pra escola para aprender a ser um robô igual esses que passam na TV.
Mas pelo barulho tenebroso, cheiro podre e o vento que circula aqui, percebo que não é um sonho.
Estou aqui, dependendo só de mim pra conseguir, e sei que vou. Pode demorar pra eu achar uma entrada ou uma saída, mas vou continuar em frente, prefiro esperar fazendo do que esperar sentado.

Está ficando difícil, o dia não vem.
Onde estou o tempo não é igual de onde você está, aqui isso não faz efeito, por isso meu relógio parou de contar as horas faz tempo.
Nós fazemos as escolhas.
Agora o medo que tenho é que não sei o que fazer quando conquistar o meu objetivo.
Vou deixar todos os sentimentos ruins aqui.
Aqui tem coisa de todo o tipo, me disseram que um cara tinha tudo e não sabia se era feliz, caiu na sua própria armadilha, ficou preso dentro de si mesmo.
Depois de tudo que já passei, não conseguir completar o meu destino está fora de cogitação.

Espero conseguir ver uma luz, acertar o caminho e sair ileso disso tudo.
Depois dessa jornada de um dia só, sou capaz de reconhecer o valor da vida, esse valor não está nas coisas que conquistamos com o tempo, mas sim nas coisas que conseguimos levar com nós seja lá onde for.
Está frio, sinto fome e um pouco de medo.
Mas tenho certeza de que sou merecedor de sair vivo daqui.
Quando você tentar entrar aqui prometo que grito o seu nome.

10 comentários:

Lectícia, disse...

Nando, ficou muito foda esse texto *_* Adorei seu ponto de vista da historia, seu jeito de descrever cada detalhe, as impressões que você conseguiu transmitir! Parabéns mesmo!

Beijão, querido ;**

Igor Pinheiro disse...

Legal mesmo, faz pensar bastante.

Melhor parte pra mim, foi: "Mas dizem tantas coisas, que se eu fosse dar ouvidos eu não sairia da minha cama."
Absoluta verdade.
Parabéns pelo blog!

http://tvecine.blogspot.com

Rosangela A. Santos disse...

Gostei muito da "história" fiquei pensando e até imaginando como seria essa jornada .. e faz com que se reflita .. os obstaculos da vida é que nos dar força e ver como é bom viver .. rsrsrs


Abç

Anônimo disse...

Muito legal! Adorei!

Ficarei muito feliz se você visitar o meu blog tbm!

Abraços e muito sucesso!

:D

http://antoniopimenta.blogspot.com/

Pobre esponja disse...

Cada minuto era motivo para comemorar.

Concordo.

Carpe Diem, eternamente

parabéns pela sensibilidade
Pobre Esponja

Victor Zanini disse...

Pois é cara, se a gente der valor para cada coisa pequena, não vamos se arrepender depois! e dizer, poderia ter feito assim, ou, se eu tivesse feito isso nao estaria agora aqui triste..
ou as vezes até pelo contrario.. entende? rs.

Até.

Leandro Rocha disse...

Parabéns pelo texto!
Ele é envolvente e te transporta para dentro da mente que ele retrata.

Muito show!

Anônimo disse...

Retribuindo a visita e gostaria de agradecer pelos comentários que você fez no meu blog!

Muito sucesso a você

Abraços
:D

Carol Petry Matzenbacher disse...

Adoro textos detalhados. E tu é bom nisso!
Adorei a imagem no título do blog!

Filhas da PUC
www.filhasdapuc.com

Saci Pirata disse...

Belo texto, você escreve muito bem, parabéns!
Abração do Saci!!